A prevalência de deficiência de vitamina D na população mundial aumenta à medida que as pessoas têm seus estilos de vida modificados pelas exigências do cotidiano moderno. Esse cenário é comprovado por estudos multinacionais, avaliando crianças, adultos e idosos, em que prevalências de hipovitaminose D (25-hidroxivitamina D <30 ng/ml ou 75 nmol/L) variam entre 35 e 100% dependendo da população e estação do ano.
A vitamina D no organismo é mensurada através de níveis séricos de 25 – hidroxicolecalciferol (25(OH)D), onde valores >30 ng/ml (~75 nmol/L) são considerados suficientes, de 30 a 20 ng/ml insuficientes e <20 ng/ml (~50 nmol/L) deficientes.
Tal vitamina é adquirida, nos seres humanos, através da produção de 7- dehidrocolesterol, pró-vitamina D3, na pele, pela absorção de radiação UVB, e por ingestão alimentar (leite, gema de ovo, óleo de fígado de bacalhau e peixes gordos, como salmão e sardinha). Nesse contexto, a pele provê de 80 a 100% das necessidades de vitamina D, a qual é estocada na gordura corporal em períodos de maior exposição solar, porém, alguns fatores podem impedir sua absorção:
- Uso de protetor solar com fator de proteção 30 reduz a síntese de Vitamina D na pele, acima de 95%.
- Pessoas com pele mais escura têm uma proteção natural ao sol, pois a melanina absorve a radiação UVB e necessitam de um tempo de exposição solar 3 a 5 vezes maior para sintetizar a mesma quantidade de vitamina D que as de pele clara.
- O envelhecimento da pele e a idade diminuem a capacidade cutânea da produção da vitamina D, por menor disponibilidade de 7‐
- Os danos na pele como queimadura diminuem a produção de vitamina D.
- A contaminação atmosférica e a nebulosidade podem atuar como filtro solar.
- A estação do ano e, a hora do dia influi dramaticamente na produção cutânea de vitamina D.
A vitamina D é bastante conhecida pela sua função no desenvolvimento e na manutenção do tecido ósseo, bem como pela manutenção da homeostase normal do cálcio e do fósforo. Porém, evidências científicas sugerem o envolvimento dessa vitamina em diversos processos celulares vitais, como: diferenciação e proliferação celular, secreção hormonal (por exemplo: insulina), assim como no sistema imune e em diversas doenças crônicas não transmissíveis.
Estudos tem demonstrado uma relação entre a deficiência de vitamina D e a prevalência de algumas doenças autoimunes como diabetes melito insulino-dependente, esclerose múltipla, doença inflamatória intestinal, lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide. Sugere-se que a vitamina D não só previnam o desenvolvimento de doenças autoimunes como também poderiam ser utilizados no seu tratamento.
A vitamina D pode atuar como potente agente modificador do risco para o aparecimento de diabetes tipo 2. Estudos clínicos e epidemiológicos confirmam essa hipótese, pois demonstram que indivíduos com redução na concentração de vitamina D sérica apresentam maior risco para desenvolver diabetes tipo 2, assim, manter os níveis séricos de vitamina D satisfatório pode prevenir o aparecimento de diabetes tipo 2.
Tal vitamina também mostra-se satisfatória para indivíduos que apresentam hipertensão. Dados do Intersalt Study, importante trabalho sobre fatores de risco e controle de hipertensão com mais de 10.000 indivíduos de diversos países, mostram pressão arterial sistólica e diastólica positivamente associada a exposição solar e, supostamente, a menor concentração vitamina D estariam relacionadas ao aumento da pressão arterial. Em estudo realizado por Krause e cols. com pacientes hipertensos submetidos à radiação ultravioleta três vezes por semana, durante três meses, foi demonstrado aumento de 180% nos níveis séricos de vitamina D e redução de 6 mmHg na pressão arterial sistólica e diastólica.
Ao se ter em conta o valor imprescindível ao equilíbrio funcional do organismo humano e à manutenção da saúde, a deficiência de vitamina D, certamente resultarão em distúrbios orgânicos, podendo evoluir para importantes patologias, assim, exposições regulares à radiação solar e até mesmo às suplementações alimentares, em casos de comprometimento da absorção ou transformação em sua forma ativa, fazem-se necessárias.
Essas informações não dispensam acompanhamento do médico ou nutricionista.
Michele Gonçalves
Nutricionista CRN10: 3378
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