Canetas emagrecedoras: solução rápida ou risco à saúde?

Medicamentos injetáveis para emagrecer ganham popularidade, mas exigem atenção à alimentação e suplementação para garantir resultados seguros.

A obesidade é uma das maiores ameaças à saúde pública do século XXI. Com causas multifatoriais, como sedentarismo, má alimentação e estresse, ela está ligada a doenças cardíacas, diabetes, hipertensão e inflamações crônicas. Diante desse cenário, cresce o interesse por soluções rápidas, como as chamadas “canetas emagrecedoras”.

Esses medicamentos injetáveis, como a semaglutida, são originalmente usados no tratamento do diabetes tipo 2, mas ganharam destaque por sua capacidade de reduzir o apetite e promover perda de peso. Atuam imitando o GLP-1, hormônio que regula a saciedade e o metabolismo da glicose. Apesar dos bons resultados, seu uso sem acompanhamento médico e nutricional pode levar a efeitos adversos e frustração com o reganho de peso.

Efeitos colaterais e a importância da alimentação
Os principais efeitos colaterais incluem náuseas, refluxo, constipação e sensação de empachamento. Esses sintomas são comuns nas primeiras semanas de uso e podem ser minimizados com uma alimentação leve, fracionada e equilibrada. Focar em alimentos ricos em nutrientes, como frutas, verduras, fibras e proteínas magras, é fundamental para garantir que o corpo receba os nutrientes necessários para funcionar bem durante o tratamento. Comer devagar, evitar alimentos ultraprocessados e priorizar fibras, frutas e proteínas magras são estratégias essenciais para melhorar a tolerância ao medicamento. O acompanhamento de um nutricionista é crucial para adaptar a dieta às necessidades individuais, prevenindo deficiências nutricionais e fortalecendo o sucesso do tratamento.

Suplementação: aliada ou exagero?
Com a redução do apetite, é comum que a ingestão de nutrientes reduza. Nesse contexto, suplementos nutricionais como whey protein, creatina, vitaminas, minerais e probióticos podem auxiliar na preservação da massa muscular e na manutenção da energia. Porém, a suplementação deve ser cuidadosamente orientada por um nutricionista, que avalia a real necessidade e evita riscos de desequilíbrios ou sobrecarga do organismo. Dessa forma, a suplementação torna-se uma ferramenta estratégica para garantir que o paciente mantenha a saúde metabólica, o desempenho físico e o bem-estar geral durante o processo de emagrecimento.

O risco do emagrecimento sem mudança de hábitos
Sem uma verdadeira reeducação alimentar e mudanças no estilo de vida, o emagrecimento com canetas tende a ser temporário. Após a suspensão do medicamento, o apetite retorna, favorecendo o “efeito sanfona”. Além disso, o reganho de peso afeta a autoestima e pode piorar a saúde metabólica, especialmente se houver perda de massa magra.

Redes sociais, estética e desigualdade no acesso
A popularização das canetas emagrecedoras nas redes sociais levanta questões éticas e sociais. Muitas vezes, a medicação é usada por motivos estéticos, sem avaliação profissional, influenciada por celebridades e padrões de beleza irreais. Isso aumenta o risco de uso indevido e desinformação, além de reforçar a desigualdade, já que o alto custo dificulta o acesso a grande parte da população.

As canetas emagrecedoras são uma ferramenta eficaz no tratamento da obesidade, mas não substituem uma mudança real e duradoura de hábitos de vida. O emagrecimento sustentável vai muito além da perda de peso rápida: exige alimentação equilibrada, prática regular de atividade física, cuidado com a saúde mental e acompanhamento profissional contínuo. O papel do nutricionista é fundamental nesse processo, tanto para orientar a alimentação adequada quanto para acompanhar a suplementação de forma segura e individualizada, garantindo saúde e qualidade de vida ao paciente.

Nesse processo, o nutricionista exerce um papel central, auxiliando na adaptação alimentar durante o uso do medicamento, prevenindo deficiências nutricionais, orientando sobre suplementação adequada e promovendo a reeducação alimentar. Com o suporte do nutricionista e de outros profissionais de saúde, é possível transformar o emagrecimento em um caminho de autocuidado, saúde e bem-estar a longo prazo.

Tatiane de Souza
Nutricionista CRN 10 7846


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