Descobrir um câncer de mama é um momento desafiador, com cerca de 35% das pacientes desenvolvendo ansiedade ou depressão durante o processo. Pensando nisso, buscamos a ajuda de especialistas para desmistificar a jornada de tratamento, abordando temas além do processo oncológico.
A Vida Pós Diagnóstico
De acordo com Clarissa Santos, mastologista CRM 24264, “quanto mais cedo a descoberta, melhor o prognóstico, ou seja, a chance de cura. A cirurgia, normalmente, tende a ser conservadora e dificilmente é necessário realizar o esvaziamento da axila.” Destaca também que o reconhecimento inicial pode até eliminar a necessidade de quimioterapia em alguns casos. Ela explica que “quando diagnosticada com menos de 2cm e a axila for negativa, também melhora a qualidade de vida pós-tratamento, fazendo com que a paciente volte a suas atividades normais mais rapidamente.”
A médica otorrinolaringologista Vitoria Perinotto CRM 207619 informa que, no geral, o tratamento inicial (estágios I, IIA e IIB, IIIA) tem um potencial curativo maior. Nesses casos, costuma incluir cirurgia, precedida por outras terapias, como quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia, dependendo das características do tumor e da paciente. Em estágios avançados, com metástases em órgãos ou tecidos distantes do local originário, o método muda para terapia sistêmica, focando em prolongar a sobrevida, mantendo seu bem-estar.

Nutrir e Fortalecer
Elisa de Espíndola, nutricionista, reitera que as prescrições mudam conforme a fase da doença. Inicialmente, o foco é “manter estado nutricional adequado, apoiar a cicatrização cirúrgica e tolerância ao tratamento, com foco em alimentação equilibrada, controle de peso e prevenção de deficiências.” Nos estágios avançados, o objetivo torna-se o “manejo de sintomas (náuseas, inapetência, disfagia e alterações no paladar), prevenção da caquexia e suporte para qualidade de vida, com estratégias individualizadas e uso de suplementos quando necessário”. Um apontamento da Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 30% a 50% dos casos podem ser evitados com mudanças de hábitos.
Embora não exista uma associação estatisticamente forte entre alimentos específicos e a doença, exceto para a ingestão de álcool, há um consenso entre a Dra. Vitoria e a nutricionista que adotar um padrão alimentar saudável é primordial. “Há recomendações consistentes para evitar alimentos ultraprocessados, ricos em gordura saturada, açúcares e álcool, por estarem associados ao aumento do risco e pior prognóstico do câncer de mama”, comenta Elisa, orientando que os pacientes “enfatizem frutas, verduras, legumes, grãos integrais, leguminosas e fontes de gorduras boas (como azeite e oleaginosas), que fornecem fibras e compostos bioativos com efeito protetor”. Clarissa complementa que o abuso de ultraprocessados aumenta a inflamação celular, facilitando sua mutação e o desenvolvimento da doença.

Um grande aliado é a suplementação. Resultados do estudo da Faculdade de Medicina da Unesp de Botucatu sugerem que a vitamina D é uma adição promissora ao tratamento convencional. Ele mostrou que, em 80 mulheres com câncer de mama que passavam por quimioterapia, e que também receberam suplementação de vitamina D, tiveram uma resposta muito mais favorável à terapia. Após seis meses, o câncer desapareceu em 43% das mulheres que suplementaram, comparado a apenas 24% no grupo que recebeu placebo.
Santos destaca a importância da vitamina D, ressaltando que os níveis ideais devem ficar entre 30 e 60 ng/mL. Lembrem-se que a principal fonte de vitamina D (cerca de 80%) é a exposição solar, por isso, a suplementação deve ser individualizada, seu excesso pode causar toxicidade, levando a sintomas como vômitos, fraqueza, dores ósseas e até mesmo cálculo renal. Para aqueles que não apresentam deficiência, a recomendação diária é de 600 UI. Menciona também a importância de suplementar a vitamina B12 “em pacientes com problemas de absorção” e o Whey protein nos pacientes com “dificuldade de manter o aporte nutricional proteico adequado”.
A Dra. Perinotto acrescenta que, em alguns estudos, mulheres com evidências de alta ingestão de ácidos graxos ômega-3, em relação ao ácido araquidônico ômega-6, apresentaram risco reduzido em comparação com aquelas com baixas taxas de ingestão.
Corpo, Mente e Alma

Praticar exercícios físicos é considerado um dos pilares da saúde. Perinotto salienta que pode até ser benéfico para reduzir a fadiga causada por procedimentos como quimioterapia e radioterapia, indicando uma combinação de exercícios de resistência/força (musculação, pilates) com treino aeróbico (caminhadas, corrida, etc.).
O apoio profissional e de entes queridos ajuda na transição para novos hábitos. Elisa explica que “o diagnóstico de câncer de mama exige mudanças práticas no dia a dia: adequar a alimentação frente a alterações de apetite e paladar, garantir hidratação e enriquecer preparações para preservar peso e massa magra.” Ela sugere que as alterações sejam facilitadas “com orientações graduais, adaptação de receitas às preferências do paciente e envolvimento da família no preparo das refeições.”
Vitoria Perinotto acrescenta que sempre que possível, é pertinente utilizar os serviços de saúde, muitos disponíveis pelo SUS, para cultivar hábitos positivos para a estabilidade mental. Recomendando terapia (individual ou coletiva), vivência da espiritualidade (religiosa ou não) e a prática de hobbies.
Um Toque de Cuidado
A jornada de uma paciente com câncer de mama mostra a importância da atenção plena. Nesse contexto, a identificação precoce é fator chave para elevar as chances de cura. Em 2024, o SUS realizou cerca de 4 milhões de mamografias de rastreamento e mais de 376 mil exames de detecção, atestando a ampla cobertura do serviço no país. Para salvar vidas e melhorar a saúde feminina, o Ministério da Saúde decidiu garantir o acesso à mamografia no SUS para mulheres entre 40 e 49 anos, mesmo sem sintomas. A medida é essencial, pois esse grupo concentra 23% dos casos da doença.
É com base nesses avanços e na prevenção que a nossa campanha Outubro Rosa se fortalece. Acesse o link e conheça o “Movimento que Toca“, uma ação da Rede em conjunto com a Vitafor, pelo combate do câncer de mama.