Os Ácidos Graxos (AG) trans são um tipo específico de gordura proveniente do processo de hidrogenação natural (ocorrido no rúmen dos animais) ou industrial. A aplicação da hidrogenação industrial objetiva principalmente a melhoria das características físicas (aparência, aroma, sabor, cor, textura) e sensoriais e conservação de um alimento.

Constituem fontes de ácidos graxos trans na dieta os alimentos industrializados (bolos, biscoitos, chocolates, margarinas, sorvetes e produtos de fast-food) e, em menores quantidades, a carne, o leite e as gorduras de animais ruminantes. Sendo assim, o teor de ácidos graxos trans ingerido por uma população está diretamente relacionado com o padrão alimentar adotado.

Os ácidos graxos trans provenientes da carne ou de laticínios de ruminantes parecem não trazer problemas maiores para a saúde pública, talvez pela pouca quantidade ingerida (1% a 8% do total de gorduras ou menos de 0,5% do total de calorias ingeridas) ou por suas diferenças biológicas em relação aos produzidos por hidrogenação industrial.

Atualmente, os principais alimentos industrializados que contêm um significativo teor de ácidos graxos trans são: sorvetes, chocolates diet, barras achocolatadas, salgadinhos de pacote, bolos/ tortas industrializados, biscoitos, bolachas com creme, frituras comerciais, molhos prontos para salada, massas folhadas, produtos de pastelaria, maionese, cobertura de açúcar cristalizado, pipoca de microondas, sopas enlatadas, margarinas, cremes vegetais, gorduras vegetais hidrogenadas, pães e produtos de padarias e batatas fritas. Cabe destacar que a quantidade de ácidos graxos trans varia de forma significativa em diferentes tipos de alimentos industrializados e até mesmo dentro de uma mesma categoria de produto. Essa variabilidade está associada às condições de hidrogenação e ao tipo de matéria-prima utilizada.

Nas últimas décadas, os efeitos do consumo de ácidos graxos trans sobre a saúde começaram a ser investigados. Em um dos trabalhos pioneiros, o qual a atenção de muitos pesquisadores foi despertada para a investigação dos efeitos adversos dos ácidos graxos trans, Mensink e Katan (1990) levaram à conclusão de que o consumo de ácidos graxos trans aumenta o nível de LDL- colesterol e diminuem o nível de HDL-colesterol, estando, portanto, relacionado principalmente ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares e alterações no crescimento e desenvolvimento fetal e infantil.

Segundo a RDC 360/03, devem ser incluídos na rotulagem nutricional obrigatória, o teor de ácidos graxos trans e a medida caseira da porção informada. Entretanto, fica excluída a declaração de gorduras trans em percentual de valor diário (%VD), já que ainda não há um valor diário de ingestão preconizado pelos órgãos competentes. A recomendação é que seja consumido o mínimo possível e, segundo a OMS, não deve ultrapassar 1% do valor calórico da dieta. No Brasil, ainda não existem estudos populacionais para estimativa do consumo de ácidos graxos trans.

Apesar da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) exigir que os rótulos dos produtos indiquem a quantidade de gordura trans, estão isentos dessa apresentação alimentos com quantidade inferior a 0,2 g por porção. Assim, um alimento pode até conter uma certa quantidade de gordura trans sem indicação no rótulo, e estar em conformidade com a regra da Anvisa.

Em razão disso, alguns produtos que descrevem no rótulo 0% de gordura trans podem conter até 0,2g por porção desse elemento. Uma forma de checar essa informação é verificar os ingredientes do produto. Se houver indicação de gordura vegetal hidrogenada é possível que o produto não seja 100% isento de gordura trans, ainda que na informação constante na tabela nutricional indique 0%.

Portanto fique de olha na tabela nutricional, hoje já temos muitos produtos que dizer ser saudáveis no mercado, então é bom prestar atenção nos rótulos das embalagens para ver se as gorduras trans não estão escondidas na tabela nutricional.

 

Essas informações não dispensam acompanhamento do médico ou nutricionista.
Michele Gonçalves
Nutricionista CRN10: 3378

Fonte:
DIAS, Juliana Ribeiro; GONÇALVES, E. C. B. A. Avaliação do consumo e análise da rotulagem nutricional de alimentos com alto teor de ácidos graxos trans. Ciênc Tecnol Aliment, v. 29, n. 1, p. 177-82, 2009.
Dietary Guidelines Advisory Committee. Nutrition and your health. Dietary guidelines for Americans. 2005 Dietary Guidelines Advisory Committee Report. Washington (DC): Department of Agriculture; 2005.
GAGLIARDI, Ana Carolina Moron et al. Perfil nutricional de alimentos com alegação de zero gordura trans. Rev Assoc Med Bras, v. 55, n. 1, p. 50-3, 2009.
MERÇON, Fábio. O que é uma Gordura Trans?. Quím. Nova, 2011.
SCHERR, Carlos; RIBEIRO, Jorge Pinto. O que o cardiologista precisa saber sobre gorduras trans. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 90, n. 1, p. e4-e7, 2008

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